UCRÂNIA E RÚSSIA: UM CALDEIRÃO DE LEITE NO FOGO
- SRamalho
- 26 de fev. de 2022
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Após a quinta-feira dia 24 de fevereiro, quando a Rússia começou a invasão da Ucrânia, me perguntaram por que a Rússia resolveu atacar e invadir a Ucrânia tão repentinamente, sem nenhum acontecimento que justificasse tal ato.
A resposta para este questionamento tem dois fatores primordiais que devemos levar em consideração.
O primeiro temos que voltar um pouco no tempo e lembrar do famoso Golpe do 18 Brumário de 1799 ocorrido na França sob a tutela de Napoleão Bonaparte, no nosso calendário seria o dia 18 de novembro de 1799.
Com este Golpe de Estado, Napoleão não só buscou ampliar o território francês através de invasões como também ele foi responsável pela propagação de uma ideologia que tem tido reflexos nos dias atuais, o nacionalismo.
Por este pensamento e sentimento, os povos da Europa, Estados Unidos e Américas como um todo, começaram a luta por processos de independência de sua potência colonialistas e se livrando dos resquícios do modelo absolutista que estava em franca decadência.
Isso fez surgir vários países que buscavam congregar pessoas com características físicas, sociais, econômicas e culturais em comum; sendo a partir daí que surge a maioria dos países que conhecemos hoje em nosso Mapa Mundial.
O segundo fator, foi o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, lembrando que esta também está relacionada, indiretamente, ao primeiro fator acima mencionado.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o Mundo se viu polarizado entre os Estados Unidos e a União da República Socialistas Soviéticas (URSS) na chamada Guerra Fria, onde cada uma das potências buscava exercer hegemonia sobre determinados países na Europa e esta passou a haver uma divisão imaginária em Europa Ocidental sob a hegemonia dos Estados e a Europa Ocidental sob a hegemonia da União da República Socialistas Soviéticas.
Para garantir a hegemonia com seus aliados, os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com os países da Europa Ocidental criaram em 1949 a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte que tinha por objetivo oferecer proteção militar para os países europeus, na parte ocidental, que havia aderido ao seu modelo de política;
Para não ficar para trás, em 1951, a União das Repúblicas Socialistas Soviética, juntamente com Alemanha Oriental, Bulgária, Hungria, Romênia e Polônia criaram o Pacto de Varsóvia, que possuía o mesmo objetivo da OTAN, só que para os países da chamada Europa Oriental ou Leste Europeu.
Os dois blocos antagônicos viveram em “relativa” paz até o início dos anos 1990, mas tudo começou a mudar a partir de 1985, quando Mikhail Gorbachev assumiu o poder na União Soviética e passou a implementar a Perestroika (reestruturação) e a Glasnost (transparência), onde ambas as infraestruturas previam melhorar a qualidade de vida dos povos que habitavam o Leste Europeu.
Só que essas medidas causaram uma maior abertura para os pensamentos separatistas em cada um dos países do Bloco Soviético, culminando em com a derrubada do muro de Berlim em 09 de novembro de 1989 e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 08 de novembro de 1991.
A reunificação da Alemanha com o fim do Muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, cada um dos países passaram a ter autonomia polícia, social e econômica, fato que nunca foi bem visto pelo alto escalão que controlava a Rússia, notadamente os que haviam crescido econômico e politicamente através da KGB, Komitet Gosudarstveno Bezopasnosto, que em português quer dizer Comitê de Segurança do Estado.
Um desses membros da KGB era Vladimir Putin, que nunca aceitou a dissolução da União das Repúblicas Soviéticas e buscou e conseguiu crescer e influenciar o partido comunista russo até que ele conseguiu chegar ao poder na Rússia em 16 de agosto de 1999.
Gradativamente, nos anos 2000, Vladimir Putin buscou resgatar a hegemonia da Rússia sobre cada um dos países do Leste Europeu, mas uma nação em particular buscou manter longe do pensamento russo; a Ucrânia, um país de 603.548 quilômetros quadrados, equivalente ao Estado de Minas Gerais aqui no Brasil.
No pós fim da União Soviética, a Ucrânia ficou dividida em 24 Oblasts (Estados) e em particular três deles as minorias russas começaram a reivindicar autonomia política: Donestsk, Luhansk e Criméia, algo que o governo de Kiev não admitia.
Para piorar a situação, diante das constantes crises econômicas que o país vivia, no final da década dos anos 2000, a Ucrânia passou a se aproximar mais dos países da Europa Ocidental, o que desagradava o Governo Putin em Moscou.
Em março de 2014, a Rússia anexou a seu território da região da Criméia, ora pertencente a Ucrânia, o que fez aumentar os protestos das minorias russas nas regiões de Donestsk e Luhansk, na fronteira com a Rússia; o que foi afirmando pelo governo de Kiev, que tais protesto eram patrocinados pela Rússia de Putin para desestabilizar o governo ucraniano.
Já por volta de abril de 2014, os conflitos na região passaram a ter caráter armamentista, onde os rebeldes russos buscavam a independência das duas regiões e criando as repúblicas autônomas de Donestsk e Luhansk, ambas recebendo apoio militar e econômico da Rússia putiniana.
Para conter os separatistas russos, o governo de Kiev passou a lançar campanhas militares ofensivas contra os rebeldes e retomando as regiões que haviam auto se proclamados independentes.
No final de 2014, as minorias russas haviam sido expulsas da maior parte da Ucrânia e os poucos resistentes na área haviam sido deslocados para a região fronteiriça com a Rússia. A partir daí, a Rússia passou a abastecer esses rebeldes com armamento para fomentar pequenas insurgências na região.
Em fevereiro de 2015 Ucrânia e Rússia assinam o acordo de paz de Minsk II, onde ambos se comprometiam a diminuir as tensões nas áreas de conflito entre ambos, mas entre 2015 e 2020 houve mais de vinte acordos de cessar-fogo sendo violados por russos e ucranianos.
EM outubro de 2019, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa, juntamente com lideranças separatistas e governo ucraniano concordaram em fazer um mapa da paz na região, porém, em 2020 a situação voltou a ferver novamente com os dois lados acusando um ao outro de descumprir o cessar-fogo acordado.
Por fim, em 2021, o governo russo passou a movimentar tropas e equipamentos para a fronteira de seu país com a Ucrânia; onde a Rússia alegava que a Ucrânia estava se aproximando demais da Europa Ocidental e que a Ucrânia não deveria ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma vez que a presença da OTAN no Leste Europeu coloca em perigo a hegemonia da Rússia na região.
No início de fevereiro de 2021, o governo de Putin reconheceu a independência das regiões separatista das autoproclamadas republicas populares de Donestsk e Luhansk. Neste momento, foi demonstrado que a Rússia havia colocado suas tropas na região, levando a uma forte crise diplomática entre as duas nações (Ucrânia e Rússia).
Por dias, as diplomacias de vários países tentaram evitar o conflito na região, tendo inclusive, o presidente da França, Emmanuel Macron viajado a Moscou para tentar um acordo com Putin, sendo tais tentativas em vão.
Em 24 de fevereiro de 2021, uma quinta-feira, finalmente se concretizou o que se imaginava, a Rússia invadiu os territórios da Ucrânia e marchando em direção a Kiev para força uma rendição do governo ucraniano de Volodymyr Zelensky, que tem resistido. Até quando? Não sabemos.
A ajuda que a Ucrânia esperava era de força militar, mas nestes três primeiros dias tem sido apenas de sanções econômicas contra a Rússia.
José Salatiel Cordeiro Ramalho
Bacharel em Direito e em História com Pós-Graduação em História do Brasil
Gr.˙. 18
26 de fevereiro de 2022
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