O MODISMO E O TRISTE FIM DA FORD MOTOR
- SRamalho
- 17 de abr. de 2021
- 3 min de leitura
O recém anúncio do fechamento das fábricas da Ford Motor Company nas cidades de Camaçari na Bahia, Taubaté em São Paulo e Horizonte no Ceará não deveria causar surpresa, mas não para mim, pois no início de 2020 a mesma Ford Motor Company havia resolvido fechar sua fábrica de caminhões em são Bernardo do Campo em São Paulo.
Naquele momento ficou claro, pelo menos para mim, que o foco da gigante americana de automóveis estaria com outros focos de investimentos, e tais focos não incluiria o mercado brasileiros: e aí falo aqui o que já havia falado com pessoas mais próximas.
Por volta de fins de 2019 em conversas com meu amigo e Ir.˙. Giuseppe Lyra bem como com a minha namorada Isabela, eu lhes falava que os dias de carros populares, notadamente os carros de preços acessíveis aos de classe média baixa, no Brasil estavam contados; contados pelo fato de que o mercado brasileiro sempre viveu de modismo, e, o modismo do momento eram e são os chamados SUV´s.
Ironia do destino, o fechamento da Ford no Brasil se deu exatamente por causa dessa visão do mercado brasileiro em querer mais e mais SUV´s, e foi exatamente esta mesma Ford que deu o ponta pé inicial no ano de 2003 quando lançou o seu EcoSport; modelo este que foi e continua a ser fabricado no México e vendido em mais de 20 países da Europa, além do México, Estados Unidos e no mercado asiático, tendo a China com maior comércio asiático do seu SUV.
Já no Brasil, não faria sentido continuar fabricando o renovado obsoleto KA e KA Sedan, onde as vendas destes modelos caem a cada mês, perdendo espaço cada dia mais para modelos como o Gol da Wolksvagem (‘provável futuro defunto’), o Onix da Chevrolet, HB 20 da Hyundai e a depender da região até para modelos não muito atraentes, como o próprio Mobi da Fiat e Sandero da Renault.
Para a indústria automotiva, o importante é o lucro alto, caso contrário, o melhor é atender um segmento menor do mercado e assim reduzir suas despesas, caso que aconteceu no final de 2020 como fechamento da fábrica da Mercedes Bens, aqui no mesmo Brasil da ex-Ford.
Vale ressaltar que o cenário brasileiro para este ramo industrial não anda nada bem, pois a PSA que detém as marcas Citroën e Peugeot tem demonstrado cada dia mais a sua insatisfação com a retração do mercado brasileiro, especialmente com a crise da Covid-19, bem como após as idéias de fusão com o Grupo FCA da Fiat.
Neste capítulo, já há ‘ameaças’ veladas de concessionários da Citroën e Peugeot de migrarem para outras marcas, fato que suplantariam ainda mais as idéias de fechamento dessas fábricas em terras tupiniquins.
Cenário semelhante também foi visto em meados de 2019 quando a Hyundai demonstrou em tirar o controle de sua produção, aqui no Brasil, das mãos do Grupo CAOA. Este, para manter seu direito de representante da marca coreano, teve que apelar a um Tribunal Alemão, e assim manter a produção da marca em Anápolis em Goiás e em Piracicaba em São Paulo. Até quando o Grupo CAOA irá conseguir manter seus investimentos e segurar a Hyundai, não se sabe, mas os cenários não são nada animadores.
Para lembrar da nossa história recente, a própria líder de vendas Chevrolet (General Mortos), já havia ventilado no final de 2018 em também abandonar o mercado brasileiro, fechando suas fábricas em nossas terras.
Nesses casos acima enumerados, o que posso ver é, e isso é evidente para todos, inclusive os mais leigos, é que nosso sistema tributário ainda engatinha tal qual 1919 quando a Ford Motor Company aqui chegou. Nossa carga tributária assola todo e qualquer pessoa que tente viver do meio empresarial; fato este que muitos preferem viver na informalidade e outros vivem feito jogador de futebol, driblando o sistema tributário para manter portas abertas e segurar os poucos empregos que conseguem gerar.
Por fim, temos aqui no Brasil uma legislação trabalhista retrógrada onde as empresas e empresários têm receios em contratar, pois sabem que mais à frente irão sofrer consequências desastrosas, a exemplo o que ocorreu nesta mesma pandemia em que 99% do empresariado brasileiro não tinham caixa para manter os empregos. Vale lembrar que esta mesma Ford Motor Company, nos Estados Unidos é uma das maiores montadoras daquele país, tendo inclusive a primazia de ter a maior, melhor, mais eficaz e potente pick-up já feita no Mundo (Ford Raptor) e sendo líder de venda; já aqui no Brasil, o brasileiro perdeu vontade em ter um carro tipicamente popular, entrando na grande onda dos SUV’s, criado pela própria Ford Motor Company (EcoSport).
José Salatiel Cordeiro Ramalho
Bacharel em Direito e em História com Pós-Graduação em História do Brasil
Gr.˙. 17
12 de Janeiro de 2021
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